No meio da multidão que passa sem se dar conta de sua rispidez e aspereza uns pelos outros, pude perceber alguém que não queria realmente ser percebida. No meio daqueles rostos e corpos, uma figura de mulher, próximo de cinqüenta anos, vestida de maneira simples mas bem colocada transita entre aquela massa.
Ia de cabeça baixa, circunspeta, mirando o chão de forma firme procurando não se perder em seus passos. Acompanhei-a por um longo tempo, singrando entre as pessoas que pareciam nem vê-la, quiçá importar-se com sua presença. Uns buscando o total anonimato, outros bradando suas vozes tão alto que parece carecer de que olhem em seus rostos e que os cuidem.
Perdi a senhora de vista. Mas logo encontrei outro personagem digno de nota. Em um bar daqueles pouco iluminados, de caráter meio duvidoso, pude destacar um homem, barba por fazer, cabelo meio desarranjado, dorso tenso e arqueado. Tinha um olhar tão distante que muito provavelmente nem mesmo ele saberia dizê-lo onde estaria naquele momento.
À sua frente, uma latinha de refrigerante já aberta. Próximo um copo meio cheio, a borda muito com certeza estava embaçada, efeito daqueles copos que são lavados naquela esponja especial para se lavar copos mais rápido, que existem nestes tipos de bares. Mas ele não parecia dar-se conta deste detalhe, continuava longe, alheio àquela multidão que transitava num ritmo alucinado e ansioso.
Sua dispersão foi interrompida por um corpo masculino alto, com várias sacolas, supostamente com presentes, que entrara abruptamente e sofregamente no mesmo bar. Dirigiu-se ao balcão e solicitou algo ao homem do outro lado. Não ousara deixar as bolsas e sacolas no chão ou na banqueta ao seu lado temendo não tê-las mais ao lado quando baixasse seus olhos. Medo e angústia de perder todas aquelas intenções que surgira nesta época.
Mas que chamava a atenção eram todas aquelas pessoas. Uma a uma, observava algo que insistia em seus olhares e atitudes, sem muito que explicar, apenas aquela sofreguidão, aquela mesma angústia do homem do bar colocado no balcão, o mesmo medo, a mesma intenção que se desperta, parece apenas nesta época do ano.
Não, não se trata de hipocrisia, apenas de uma possível fuga de si mesmo, uma tênue explicação para sua falta de tempo o ano todo, de não conseguir dizer o que sentia por aquelas mesmas pessoas que se lembrara. Faltara-lhe tempo para ser ele mesmo, para expressar sua vida em palavras e ações; em emoções que não precisam ser explicadas.
Assim seguia aquelas pessoas, sem se darem conta que estavam sendo filmadas pelas minhas retinas.
Agora era eu que me surpreendia pensando nisto tudo, e seqüência, fui tragado pela chegada daqueles que me acompanhavam, com a mesma intenção. Guardo tudo comigo, todos os meus pacotes de indagações, embrulhos de filosofia, sacolas de idéias e me junto a eles. Afinal, é natal.
Guilherme Dias
20/12/2009 - 22h35m
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