quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O peso da memória

Quando se tem um ano apenas, o que se guarda dentro de si talvez preencha um saco de pipoca, ou melhor, uma mamadeira. Isto considerando a idéia de que possa se medir memórias como se fosse ar enlatado.

Quando se tem cinco anos, podemos considerar o volume de uma bola de futebol, aquela que insistimos em utilizar pensando sermos um futuro craque da pelota, mas que no fundo algumas vezes serve apenas para nos aproximar socialmente e sermos um pouco mais aceitos.

Quando se tem dez anos, o volume de uma garrafa de coca-cola de dois litros serviria para guardar nossas memórias, uma vez que ela já começa a ser regada a feromônio e precisa de mais imaginação e empenho para manter aquelas imagens que achamos que nunca mais vamos esquecer.

Quando se tem quinze anos, já é necessário uma embalagem plástica com doze latinhas de cerveja de trezentos e cinquenta mililitros, uma vez que além dos feromônios, também já temos algumas mentiras sobre aquela vez em que pegamos aquela gata ou gato daquela forma naquele lugar e ai vai.

Aos vinte anos; ai sim, haja espaço. Mentiras sobre nossas pegações são inúmeras. Idéias e planos para o futuro, vários. Conversa jogada fora, diversas. Cenas quase inesquecíveis, mas que o tal do "Al" vai nos tirar um dia, um monte delas (somente para nós). Daí precisaremos de um engradado de cerveja, pois necessitamos de mais espaço fisico para guardar o já pesado fardo da memória juvenil.

Aos trinta anos, já temos mais que memória, temos fatos memoráveis: casamento e todos os quase desastres contidos desde o noivado até o fim da festa, incluindo a lua de mel. A chegada de cada um dos filhos. Seus primeiros passos, primeiros vômitos na sala que tivemos que limpar e por ai vai. Ai já pegamos emprestado o baú de brinquedo dos filhos que já avançam para a primeira base.

Aos quarenta, nos utilizamos do saco do Papai Noel. Sim, é necessário muito espaço e um pouco de mágica para suportar tanto desasossego, tanta noite mal dormida, tanto coito interrompido por choro e pedido de socorro no meio da madrugada, tantos pedidos não atendidos, tanto remédio comprado entre as duas e cinco da manhã (não sei porque ainda mas é sempre neste intervalo que as maiorias das mazelas corporais se apresentam), tanta história e estórias pelo meio do caminho, tanto sentimento, tanta emoção, tanta expressão, tanta saudade.

Mas ao chegar aos cinquenta, na realidade precisamos de muito pouco espaço.  Sim, muito pouco espaço e não é pelo fato de estarmos perdendo memória, não ainda; sim pelo fato de que nos deparamos com a constatação de que não tem mais nada a fazer do que se contentar com o tamanho dos nossos testículos inchados e enfadados com tanta coisa vivida; daí pude aos cinquenta anos entender finalmente o verdadeiro sentido da  expressão: TO DE SACO CHEIO.