sábado, 28 de maio de 2011

Devaneios numa tarde qualquer de verão.

Cai a tarde.
Os olhos semicerrados revelam o peso
Que preenche duramente a linha do tempo.

Pálpebras pesadas então,
O corpo deixa-se adormecer languidamente.
Um último suspiro faz o anúncio.

O que parecia ser algo duradouro
Acaba-se como num átmo.
Num sobressalto de rigidez, a luz volta intensa às retinas cansadas.

E assim, corpo e pensamento
Permanecem singrando entre
O dia e a noite interior.

Mas, o que é rígido, é rígido.
E corpo, e pensamento enganam
A linha do tempo. Até quando?

E margeiam a vida e a labuta
Que incessantemente os provoca
Tal qual a morte faz à vida.

Um som surdo alerta:
O coração bate até o último suspiro
E ardor das manhãs anunciadas pelo inimigo vil: o tempo.

Guilherme Dias

13/10/2007.

domingo, 22 de maio de 2011

Círculos de criança.

Círculos povoam o olhar da criança
Uma dança quase voluptuosa enche-lhe
E extasia-lhe por dentro e por fora.

Oferece-lhe, a vida, um rico banquete.
Regado a alegrias simples de uma tarde agradável;

Dum sonho alimentado em conversas
Ora realistas demais, superegóicas;
Ora Id otas demais!

Mas a criança não se importou muito.
Com o pai posto à sua frente
E sem pudor, sem um pingo de censura, refestelou-se.

Sorriu a sorrisos largos,
Suspirou longamente e por fim,
Deixou-se levar pela doce preguiça vespertina.

Mas a criança já tem olhos de adulto,
Ares de adulto e pior,
A cela particular que todo adulto constrói em volta de si.

Desperta da preguiça serena
E olha os outros círculos que povoam o seu olhar;
E uma lágrima triste molha o seu rosto.


Guilherme Dias

13/07/2007

sábado, 21 de maio de 2011

Presunção

Hoje pude ver por outros olhos o que outros olhos não puderam ver.
Porque nem todos os olhos vêem o que os meus e os olhos dos outros vêem!

Hoje pude sentir através de outros sentimentos;
O que outros corações não puderam sentir.
Porque nem todos os corações sentem o que o meu coração e o coração dos outros sentem.

Por isto só uma lágrima rolou do meu olho esquerdo.

Por isto apenas uma vez minha garganta embargou com um laço forte.

Por isto meu peito apertou só um pouco, mas o bastante para senti-lo.

Por isto, meus olhos e meu coração se envolveram e assim ficaram pelo tempo suficiente para eu ver e sentir o que os outros não verão e não sentirão.

Por isto, somente isto e só desta vez, presumo que seja único...

Só desta vez.

Guilherme Dias

13/10/2007

sábado, 14 de maio de 2011

Pequena Descoberta

Fui convidado a salvar o mundo.
Aí me perguntei: o mundo?
Mas é muito grande o mundo; eu tão pequeno!

Fui então convidado a salvar as pessoas.
Como? São tantas!
Mal as conheço, mal sei quem salvar.

Chamaram-me a salvar as matas, florestas.
Embora se extinguindo ainda são imensas
Diante de minha pequenez.

Tomaram-me então como um possível salvador das águas.
Só de imaginar o mar,
Asfixiou-me a idéia.

Então me coloquei a olhar a minha volta.
Eram tantos que necessitavam.
Tantos olhares pedindo por ajuda que me perdi em cada um deles.

Então finalmente olhei para dentro de mim.
Encontrei a quem salvar.
É um bom começo.

Guilherme Dias
13/10/2007

sexta-feira, 6 de maio de 2011

"Curtas"

Boca


Por aqui entra
Por aqui sai.
É a que diz o sonho
E a que elogia e molesta.
É o caminho da verdade,
Porém com vertigem a altura que esta promove...
                                                                               (Guilherme, 08/03/1990)

Ouvido


As más e boas coisas
Por aqui passam.
O barulho do mundo e
A imensidão do silencio interior.
                                                    (Guilherme, 08/03/1990)

Olho


É aqui a porta de
Entrada e saída
Do mundo interno.
É a porta mágica que
Controla a emoção do belo e do feio.
É a revelação do segredo.
                                         (Guilherme, 08/03/1990)

Coração


Misto de vida e
Prenúncio de morte.
Quem o tem, teme por si.
Reúne o mundo, a muralha
E o sonho.
Reúne o amor.
                        (Guilherme, 08/03/1990)