domingo, 2 de outubro de 2011

O Elefante

" Com as desculpas ao grande escritor Drumond de Andrade, ousei fazer também o meu Elefante"

Faço um Elefante.
De pedaços de coisas, caixotes, madeira velha;
De restos de sentimentos, desejos.
Uso algodão e restos de panos e bandagem e esparadrapos.
Monte de pregos, sarrafos.

Seus fortes pés de cimento; carcaça forte de meu viver.
As pernas com madeira velha, como velhos são meus sonhos.
O corpo rijo de emoções contidas faço de caixotes e pregos
para fotalecer meu corpo de madeiras fracas, de sentimentos volúveis.

Preencho meu corpo - caixotes - de algodão, lágrimas
Sensíveis de meu interior sempre ferido.
Cubro o corpo com bandagem e cerco-a com esparadrapo
como fechadas são minhas ações.
Dos restos de panos, construo a trombra,
Desigual e amorfa como meu ser interior se sente.

Feito meu Elefante, falta a cauda, por onde me seguram, me privam
E por isto, meu Elefante fica sem cauda;
Por que ele vai sem censura, titubeante, mas seguro por si, se não, de si.

Pronto, meu Elefante sai e com ele me vou;
Minhas emoções, meus objetivos, minhas afeições, meus medos;
Atravessa nas praças cambaleante, sem direção definida
Sem passos certos, sem horizontes concretos.

Eu e meu Elefante - nos passos, semelhantes - no objetivo, congruentes;
Mas na vida, diferentes; no viver inseguro deste Elefante.

E então, meu Elefante no final da tarde, volta.
Depois de ter mostrado sua forma amorfa, seu corpo balofo e desleixado,
sua personalidade indefinida, seu peso rastejante pelas suas composições
se esfacelando a cada tombo;
A cada passo mal dado, a cada comida mal ingerida, de um pensamento mal formulado.
E aí, caindo a tarde ele vem em passos pesados, cabeça baixa,
sem estrutura, sem elegância, mas meu Elefante volta
Derrotado, porém sempre para dentro de si, por si mesmo.

E entrando a noite, peça por peça desmonto meu Elefante
E ai me vou destruindo no íntimo numa carência insustentável.
E minha cauda se foi para sempre com o meu Elefante
Sua trombra, seu corpo, seu trejeito
Meu Elefante...

Agosto de 1987