terça-feira, 28 de setembro de 2021

 Por que me vejo só!?

Numa linha tênue entre ver ao longe e ver-se por dentro, vislumbro tantas e inúmeras coisas em minha trajetória que as vezes a pergunta me vem insistentemente à mente: Por que me vejo só!?

E por mais que busque a resposta não há eco que a ressoe e nem palavras que a exprimam; simplesmente ela reverbera sem barreiras em meu interior calejado e cansado....

Algumas lágrimas vem aos olhos teimosas querendo trazer aquele gosto salgado de mar às lembranças comezinhas do nosso existir e engulo seco, combato as sensações que brotam sem nenhuma explicação.

Algumas coisas não são como queremos e outras são quase nossos sonhos. Um paradoxo que só a vida escarnecida e vivida nos mostra, nos denuncia. Um espelho dentro do espelho que está dentro do espelho, projetando tantas possibilidades de uma mesma coisa.

Quanto podíamos ter evitado? Quantos choros podíamos ter desviado; quantos fracassos podíamos ter transformados; quantos deslizes podíamos ter colocado nos trilhos; quantas desditas podíamos ter delineados; quantos "foras" podíamos ter transmutados em histórias, mas daí vem o tal do livre arbítrio e por mais que tenhamos nos esforçado, tudo sai como teria que sair....

E assim, os amores passaram, as paixões minguaram, os sucessos ruíram, as conquistas findaram, a escrita apagou-se, a palavra se calou e ali sentado naquele banco de praça, próximo ao mar que insiste em embalar nossos pensamentos, devaneio tudo e todos em minha mente.

Minha mãe se foi, meu pai se foi, minha nora se foi, meus sonhos alguns, se foram. Para onde, não sei, mas as vezes, é fato, fica um vazio estranho que não gosto de ver transformado em lágrimas salgadas, mas hoje, por algum motivo aparentemente maior que não pude compreender, resolvi experimentar o gosto salgado deste vazio e falar sobre ele.

E daí veio a pergunta: Por que me vejo só!?

Não sei, vou esperar o trem passar, o ônibus passar, as horas passarem, o sol trocar de lugar com a lua, o nascer de novas pessoas em meu redor e continuar trilhando o que me prometi ainda em luz.....

Não me preocupo em responder a pergunta, mas vivê-la. Assim foi a forma que experimentei quase todas as coisas que tive até hoje, o conhecimento, a filiação, a irmandade, o coleguismo, a amizade e paternidade e a trajetória terrena como um todo.

Ao escrever, aquelas lágrimas teimosas vão se rareando e o que sobra é uma bola de "sei lá o que na garganta" que logo vai sumir também. Assim é a forma que lido com meus fantasmas interiores; convivo com eles até me acostumar com sua presença e de repente eles são partes integrantes de mim.

E a pergunta ainda sem resposta vai se tornando cada vez mais tênue para quem sabe em algum outro momento reminiscente de minha existência, venha me assombrar novamente....

Até breve!

23;28 de 28 de setembro de 2021.