terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O Eremita


Joguei a toalha. Nesta luta parece que perdi. Há uma sofreguidão persecutória em torno de minha existência. Aquilo que parece estar em harmonia, trafega em uma avenida cheia de idéias interminadas, de sonhos não realizados e projetos deixados pela metade.

No meio de uma multidão de pensamentos, os meus se misturam, se dispersam, tornan-se tênues e sem expressão. Assim é minha atitude eremita. No meio do tudo, o nada.

Os olhos deste eremita mira tudo aquilo que deseja, almeja. Mas ao redor dele, nada permanece. Se distancia na medida que se aproxima; se afasta, no momento que deseja o toque. Assim é este eremita. Solitário, sim solitário, não em solidão.

A solidão é um estado de ser, sentir-se só no meio de todos, condição que não ostenta este eremita. Prefere ser solitário, conviver com seu estado de ser, sua forma de permanecer no mundo.

A marca que rege sua trajetória é a visita ao seu interior. Sempre disposto a ver aquilo que ninguem consegue e nem conseguiria ver. Todos os caminhos que ninguem conseguiria passar, todas as imagens que cegariam os mais crédulos e os incrédulos também.

Ali, detido em sua imaginação, contém o sopro de sua vida. Quieto, silencioso em sua estadia diária, envolvido nos arcanos formadores de sua mensagem, verte-se num arcabouço de pura inspiração; deleite próprio de alguém que não tem ninguém, não está presente em nenhum lugar em especial. É aparentemente livre, só aparentemente.

Assim é a vida do eremita. Seu lugar de moradia é em qualquer lugar, mas o mais preferido dele é aquele que ninguém tem acesso: seu interior. Sua casa mais bem protegida, ensaio de um bunker militar.

Não há lugar onde o eremita possa permanecer, porém pode ser aqui, lá ou em qualquer lugar onde não haja ninguém, não haja imagens de ninguém, não haja pensamentos de ninguém, não haja vestígios de intenções, não haja idéias pré-concebidas, não haja outro eremita com os mesmos problemas.

Eremita que sou, permaneço sem estar ai ou aqui. Apenas naquele lugar em que voces não podem ir, nem se desejarem. Meu espaço de confinamento só a mim pertence. Eremita que sou, permaneço dentro de meu próprio eu, recoberto de reminiscências que despertarei em doses pequenas  enquanto sorvo a liberdade de ser o que sou: eremita.

29/12/2009 – 22h36m

Guilherme Dias

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