sexta-feira, 29 de abril de 2011

Faltando um pedaço.

Um gesto completo...
            Uma boca, um beijo.
            Um roçar de sonhos entre outros sonhos.
            Um som mudo com a mão atrevida.


Uma palavra completa...
            O som gutural do infinito desejo.
            O apelo do útero mundo.
            O sobejo de paixão hilariante.

Um olhar completo...
            D’alma cálida no embrião amor.
            Do sonho súbito surgido das mil e uma noites.
            Do suspiro ambíguo; dor e amor.

Um toque completo...
            Com a mão arquetípica.
            Com o sublime afeto.
            Com o amor repleto.

Um cheiro completo...
            De sangue fervente na lava interna.
            Do furor das feras antigas.
            Do gozo insano que pulsa ardente.

Um amor completo...
            De prazer.
            De gozo.
            De carinho.
                                   De......

S. Guilherme Dias

09/02/1990

quarta-feira, 20 de abril de 2011

O que busco em voce.

Um ser acordou meio sonâmbulo e tateando ainda no lusco-fusco do amanhecer se dirige ao banheiro....era a idade pressionando a bexiga para liberar a angústia do dia anterior...

Ao abrir a porta, luz ainda apagada, o que se podia ver era uma imagem pouco definida no espelho diante da porta. Um misto de susto e constatação explodiu nas entranhas daquele ser que aturdido ainda procurava sair do estado de torpor que o sono profundo causa nas pessoas que sabem como dormir...

A imagem permaneceu no interior da sua mente por todo o dia. O reflexo pouco definido de sua imagem ficava indo e vindo como se fosse uma mensagem subliminar, necessitando de uma resposta, de um entendimento.

Parecia assim ser um símbolo, um signo em busca de um significado. Que seria, que significaria, que ilustraria aquela imagem que mais parecia um arremedo do mito da caverna. Quem de fato estaria ali, naquela sombra que embora racionalmente traduziria sua projeção num mero espelho, trazia uma saraivada de indagações e inquirições?

O dia passou, as horas se alongaram e a imagem refletida no espelho foi a companheira inseparável de todo aquele percurso. Não bastasse a imagem insistente, havia ainda o barulho que fazia o martelo na consciência; haveria alguem ali do outro lado?

Seria a imagem refletida a realidade e o refletido o sonho, a imaginação tal Alice no pais dos espelhos? Loucura ou não quem já não imaginou algo deste tipo? A que se desculpar, afinal era o período matutino mais perturbador para quem prefere o silêncio e a tranquilidade da noite.

Mas o fato é que espelho e reflexo invadiram o imaginário do ser despertado na madrugada e o fez refletir : o que busco em você?

Esta resposta viria com o mergulho no próprio reflexo do "EU". Assim todos os dias aprendida a lição, ao fazer o rito diário matutino, o ser encara o espelho e tenta buscar sua  resposta.... será que um dia ela virá?

Só olhando!!!

Guilherme Dias
20/04/2011

Menina

Ah! Menina.
Tu tens a pétala da esperança presa em seus ramos superiores;
O perfume da vida a invadir-te o ser na plenitude do agora.

Menina,
Teus olhos neste momento são os meus olhos a refletirem os raios dos sentimentos.
Uma onda deles.

E saber menina,
Que pode ser esta noite;
Esta, que tu sucumbirás em braços alheios ao teu conhecimento,
A teu conhecimento interno.

Tua pele será a minha e a minha a tua;
Confundindo-se menina,
A uma colisão de ar e ar;
Nada a se encontrar ou tudo a se encontrar.

Ah! Menina.
Se tu soubesses da minha gula,
Fugiria aos braços protetores dos seios maternos
E não deixaria os teus à mostra para meu lúgubre prazer.

Menina,
É chegada a hora em que sentirás o calor deste fogo
De paixão e gritarás com um coro mudo e sufocado.
Sentirás menina,
O que eu sinto no momento em que te olho e que tu me olhas,
Penetrando-nos até o limiar da alma
Num súbito pesquisar de emoções.

Estarás então se entregando
E eu entregando-me e entregando-te o suspiro do ser,
A sôfrega espera da escalada,
Menina.

Ah! Menina.
Pode ser hoje o momento em que sucumbirás em meus braços
E eu no teu, num suspiro eterno e mútuo,
Anunciando que já não é mais...
                                                                                  Menina...

Guilherme Dias

14/05/1986.

sábado, 9 de abril de 2011

Breves recordações de um sol perdido

Vinde fosco raio de luz
Invade com sua fluorescência
A ignóbil e extravagante
Teia de pensamentos
Incrustados nesse cérebro.
Irradia seu calor luminoso
Por entre as entranhas
Dessa estonteante mente.
Transforme a reserva
De ar espalhado nesse salão
Em uma densa neblina
Que invade todo o universo.
Infiltre-se nesse emaranhado
De destroços e planos inacabados
E torne a movimentar essa
Máquina pensante.
Destrua os profetas
Supérfluos e banais
E reconstrua essa
Mirabolante imaginação.
Erre e acerte
Até alcançar a perfeição
Buscando o infinito
Inconsciente.
Ignore os pequenos fatos
Mas não os esqueça,
Arquive-os no porão
Desse calabouço pensante e doentio.
Estabilize e equilibre
Os atos,
Grandes e pequenos
Não os deixando escapar
Ao fatal controle.
Esquematize os ataques,
Planeje,
Elabore,
Porque a guerra é árdua.
Junte os mortos num recipiente,
Jogue o restante em cadeiras de rodas,
Em muletas
E queime os destroços.
Recolha as riquezas,
Guarde-as em cofre forte
E afunde-as no mais fundo dos buracos.
Estremeça as estruturas ósseas
Dos grandes monstros sagrados
E os evacuem pelos esgotos da vida.
Transpire pelos seus poros
As almas impuras dos
Mundos abissais.
Obscureça as normas
Dessa música mal regenciada
Por um péssimo maestro:
O mundo.
Desvaneça sobre a terra,
Deslumbre sob o céu;
Morra incansavelmente
Nesse inexorável solo fértil.
És corpo imenso
Que vagueia
Pelos cantos insertos
Do universo.
Somos de ti
Peregrinos
E aprendizes
Pela tua glória e ascensão.
Nós nos reduziríamos
A pó
Por necessidade,
Pela tua plenitude astral.
Tu és começo, meio
E fim
Do centro de tudo,
De todos,
Do uno.
És onipotente
Onipresente
E único
A ser uno com várias formas.
És um fato
E em conseqüência disto
És sua própria conseqüência.

Tudo isso se resume como
Uma carta
De um provável futuro “Caminha”
A um provável futuro “D. João”
Anunciando a descoberto
De uma terra desconhecida
Num universo desconhecido
Com pessoas desconhecidas e diferentes
Que se desconhecem entre si;
Com pensamentos também desconhecidos
E contrastantes entre si,
Em uma ligação frequencial
De forma, espaço e tempo;
Com formas diferentes e inalditas,
Bizarras em sua personificação,
Centralizada por uma planificação
Desconexa e amorfa.

Será anunciado como Ramseés, faraó.
Será anunciado como David, pregador.
Será anunciado como Papa, pontífice.
Será anunciado como Judas, traidor.
Finalmente será anunciado
Por cornetas,
Por astros,
Por intenções e palavras, é só seu espírito
Virá pairar sobre o novo mundo
Como o início de um novo e
Infinito fim.

E a teia de pensamentos
Voltará a se refugiar
Nesse cérebro até
O dia em que as sombras
Invadam e tudo se separe
E a fluorescência desse fosco raio de luz
Se evada na imensidão universal...

“Apagaram a luz no horizonte”

Eu não subi o morro
Porque não o vi.
Não pude avistar nada de lá de cima,
Pois nem na sua base cheguei.
É difícil desejar e não conseguir.
Não senti o vento no rosto;
Apenas o do vale de onde não saí.
Conheço as armas e sinto que as uso.
Conheço o campo de batalha e no
Entanto parece que desaprendi a guerrear.
Meu elmo, escudo e armadura desapareceram...
...E eu permaneço aqui no vale perguntando:
Por quê?
Por que?
              (Guilherme, 22/06/1989)